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A crise da mulher contemporânea: A necessidade de aprovação
Um estudo do caso de Lia — A necessidade de agradar o companheiro
Esta mensagem foi ministrada como a primeira de uma série idealizada pelo Rev João Paulo Souza e Silva (Jota) da IPI Novo Norte — Campinas, que buscou aproveitar o Dia das Mães para falar sobre uma tendência que ele tem observado nas mulheres com que convive de agradar os outros, (muitas vezes esquecendo-se de si mesmas), gerando exaustão, frustração e baixa-estima. Eu tive o desafio e o privilégio de abrir as ministrações em 05/05/2024, falando sobre a necessidade que temos em agradar o companheiro. Segue a reflexão:
Para tal, gostaria de fazer uma passagem breve pela psicologia, a filosofia e a Bíblia. Vamos montar um pequeno quebra-cabeça aqui.
Começo com uma pergunta: Afinal, porque, de maneira geral queremos tanto agradar? Você já se fez essa pergunta?
A primeira resposta que me vem à mente é pela necessidade de aprovação. E isso vale tanto para homens como para mulheres. A necessidade de aprovação é um desejo ou anseio profundo por receber reconhecimento, validação e aceitação dos outros. Pessoas que têm essa necessidade buscam constantemente a aprovação e o feedback positivo dos outros para se sentirem bem consigo mesmas. Elas podem depender da opinião e do julgamento dos outros como forma de validação de sua própria autoestima e valor pessoal.
Os sinais de necessidade de aprovação podem variar de pessoa para pessoa. Quero apontar os cinco mais comuns segundo a psicologia moderna:
1. Buscar constantemente validação dos outros: Uma pessoa que precisa de aprovação pode estar sempre buscando a aprovação dos outros em suas decisões, ações ou aparência. Elas podem depender muito dos elogios e do reconhecimento dos outros para se sentirem bem consigo mesmas.
2. Medo de críticas: Aqueles que têm uma necessidade extrema de aprovação podem ter muito medo de críticas ou rejeição. Eles podem evitar tomar decisões por conta própria com medo de desagradar os outros ou de serem julgados negativamente.
3. Dificuldade em dizer “não”: Pessoas que buscam aprovação geralmente têm dificuldade em dizer “não” aos outros. Elas podem se sentir culpadas ou temer que sua recusa cause desaprovação ou rejeição por parte dos outros.
4. Baixa autoestima: A necessidade de aprovação pode estar relacionada a uma baixa autoestima. A pessoa pode não se sentir digna ou suficientemente boa, e, portanto, busca a validação externa para se sentir valorizada.
5. Atenção excessiva à opinião dos outros: Indivíduos que precisam de aprovação geralmente valorizam demais a opinião dos outros. Eles podem deixar de agir de acordo com suas próprias vontades e necessidades, colocando sempre as expectativas e opiniões dos outros em primeiro lugar.
Essa necessidade de aprovação pode ser influenciada por vários fatores, como experiências de infância, dinâmicas familiares, pressões sociais e culturais, entre outros. Algumas pessoas podem ter desenvolvido essa necessidade como uma estratégia de adaptação para obter aceitação e evitar rejeição.
Lia, um estudo de caso
A mim hoje cabe falar sobre a necessidade de agradar o parceiro. Olhando para a Palavra de Deus gostaria de fazer um estudo de caso da matriarca Lia ou Leia, dependendo da tradução que você tem. Dependendo da tradução bíblica, Lia também é chamada de Lea ou Léia, ambas traduções estão corretas. Seu nome vem do hebraico le’ah, que provavelmente significa “vaca selvagem”.
Lia foi a primeira esposa de Jacó. Ela era filha de Labão e irmã mais velha de Raquel, a segunda esposa de Jacó. A história de Lia está registrada no livro de Gênesis (Gênesis 29–49).
A Bíblia não diz absolutamente nada sobre a mãe de Lia ou qualquer outra informação anterior a chegada de Jacó em Harã. Lia apenas é descrita na Bíblia como uma mulher de olhos tenros ou meigos. Em uma rápida pesquisa a tradução de “meigos” do hebraico, quer dizer “fracos”, o que soa um pouco desfavorável. Ou seja, ela não era considerada uma mulher atraente, e cresceu a sombra de Raquel. Já sua irmã, Raquel, é descrita como tendo um belo semblante, uma mulher formosa à vista.
Em consequência, seu pai, Labão, sabia que homem nenhum jamais se casaria com ela ou ofereceria dinheiro por ela. Durante antes, ele deve ter se perguntado como faria para se livrar de Lia para que Raquel, alcançasse bom preço — eis o patriarcado. Labão encontrou a solução de seus problemas financeiros, identificou a oportunidade e soube aproveitar.
Muito casamento eram arranjados dessa forma na antiguidade. Muitas mulheres eram compradas e vendidas. É importante ressaltar que todas essas relações disfuncionais como a compra de noivas, a poligamia e a primogenitura estão sendo colocadas em xeque pelo autor de Gênesis, não estão sendo exaltadas, como alguns podem pensar…ao longo do livro a poligamia produz devastação. Nunca dá certo. Nela podemos ver a miséria que as instituições patriarcais causam nas famílias.
O casamento de Lia com Jacó
A história de Lia ficou conhecida especialmente por conta do episódio envolvendo seu casamento. Quando Jacó precisou fugir da cólera de seu irmã Esaú, ele foi para Harã, onde ficou hospedado na casa de seu tio, Labão.
Assim que chegou a Harã, Jacó conheceu sua prima Raquel, por quem logo se apaixonou. Pretendendo se casar com Raquel, ele firmou um acordo com Labão para viabilizar o casamento. Ficou acordado que Jacó trabalharia para Labão durante um período de sete anos. No fim desse período ele receberia o direito de se casar com Raquel.
Mas depois dos sete anos de trabalho, Labão enganou Jacó. Ele armou um plano no qual Jacó acabou se casando pensando piamente que sua esposa seria Raquel. Apenas na manhã seguinte ao dia do casamento Jacó percebeu que havia tomado Lia por mulher.
Labão justificou enganar Jacó com base em que a filha primogênita deveria casar-se primeiro que a mais nova — sua observação lembra que Jacó enganou seu próprio irmão primogênito (ironias da vida ou justiça poética do autor — o trapaceiro é trapaceado). Então um novo acordo foi feito de sete anos de trabalho para que Jacó pudesse se casar com Raquel.
Lia — a rejeitada
Lia a filha a quem o pai não queria era agora a esposa a quem o marido não desejava: “Jacó…amava [Raquel] muito mais que a Lia’ Gn 29.30. Ela era a moça que ninguém queria.
Lia tinha um vazio no coração tão grande. Ela talvez nunca tenha sido amada e nunca se sentiu querida. Ela coloca toda sua esperança em conquista o amor de Jacó. Para nossa reflexão gostaria de convidar você a acompanhar a leitura de Gênesis 29.31–35 NVI:
31Quando o Senhor viu que Lia era desprezada, tornou‑a fértil; Raquel, porém, era estéril. 32Lia engravidou, deu à luz um filho e deu‑lhe o nome de Rúben, pois dizia: “O Senhor viu a minha miséria. Agora certamente o meu marido me amará”. 33Lia engravidou de novo e, quando deu à luz outro filho, disse: “Porque o Senhor ouviu que eu sou desprezada, deu‑me também este”. Por isso, deu‑lhe o nome de Simeão. 34De novo, engravidou e, quando deu à luz mais um filho, disse: “Agora finalmente o meu marido se apegará a mim, porque já lhe dei três filhos”. Por isso, deu‑lhe o nome de Levi. 35Engravidou ainda outra vez e, quando deu à luz mais outro filho, disse: “Desta vez, louvarei ao Senhor”. Por isso, deu‑lhe o nome de Judá. Depois disso, parou de ter filhos.
O que ela está fazendo? Tentando encontrar felicidade e uma identidade por meio dos valores tradicionais da família. Ter filhos, em especial naquela época, era o melhor meio para isso; mas não estava funcionando.
Lia apoia todas as suas esperanças e sonhos em agradar o companheiro. Veja: “Se tiver filhos, então meu marido virá a me amar, e enfim minha vida infeliz será transformada”, provavelmente ela pensava.
Só que em vez disso, cada nascimento empurrava-a mais para dentro de um inferno de solidão. Dia após dia, Lia estava condenada a ver o homem por quem mais queria nos braços daquela em vivera a sombra toda a vida. Imagina isso todo dia, dia após dia.
A busca desesperada em agradar a Jacó e sua falta de sucesso podemos visualizar no nome dos filhos. O tema da ausência do amor de Jacó por Lia reiterava-se a cada nascimento no nome das crianças: Ruben — que significa “veja, um filho” ou “veja, uma descendência” — “O Senhor viu a minha miséria. Agora certamente o meu marido me amará”; Simeão — Significa “ele ouviu”, “ouvinte” — “Porque o Senhor ouviu que eu sou desprezada, deu‑me também este” , Levi — significa “ligado”, “unido” ou “vinculado a alguma coisa ou alguém” — “Agora finalmente o meu marido se apegará a mim, porque já lhe dei três filhos”.
No entanto, sua busca desesperada em agradar a Jacó a qualquer custo parece não ter resultado que ela tanto esperava. Ela tinha acesso ao marido, mas, não ao seu amor.
O avanço de Leia
Nessa triste história de um casamento tão disfuncional, parece ser Lia a que tem algum progresso espiritual, mesmo que só tardiamente. Lia sempre muito temente, sempre apela ao Senhor pedindo a Ele que Jacó a ame e sempre que nomina um filho isso fica muito evidente. Ela era desprezada, o que se explica dada as circunstâncias inusitadas do seu casamento. E sabemos que Deus sempre age na bíblia em favor do desfavorecido, Deus é Deus dos que sofrem.
Seu avanço espiritual fica evidente, alguma coisa aconteceu quando ela tem Judá — significa “exaltado”, “glorificado” ou “louvado”. Para nós em português parece que ela está simplesmente agradecendo — porque convenhamos parir um filho na antiguidade era bem mais arriscado que hoje — A taxa global de morte materna é de 200 por 100 mil nascidos vivos. No Brasil, são 60 mortes por 100 mil nascidos vivos — um índice menor que 5%. Na antiguidade não encontre dados, mas, para se ter uma ideia no período do império romano cerca de quase 10% das mulheres morriam de parto e de suas sequelas.
É mais do que agradecer, no original em hebraico existia a palavra genérica para Deus — Elohim. Todas as culturas da época tinham alguma ideia geral de Deus ou de Deuses. E é está palavra que Lia usa para agradecer os três primeiro filho, mas, no quarto, ela chama Deus de Yahweh, que era o nome que Deus havia revelado a Abraão e mais tarde a Moisés. O único jeito de Lia saber sobre Yahweh seria se Jacó lhe tivesse contado acerca da promessa dirigia ao avô dele. Portanto, apesar de seus conflitos e confusão, Jacó buscava um Deus pessoal e compartilha com Lia.
E muito provavelmente, essa mulher que idolatrava o marido e o buscava agradar de todas as formas, tem um encontro pessoal com esse Deus. Porque quando ela dá à luz seu quarto filho, Judá, Lia diz: “Dessa vez louvarei Yahweh”.
Havia um tom de desafio nessa afirmação. Ela era diferente das que Lia havia feito nos outros partos. Não há menção de marido ou filhos. De validação. Parece que finalmente ela tinha removido as esperanças mais profundas do seu coração de agradar seu marido e eu ter filhos em Deus. Jacó e Labão haviam roubado sua vida, mas, quando Lia entrega seu coração ao Senhor ela tem sua vida de volta.
O rejeitado se tornou o salvador
Deus vem ao encontro da menina que ninguém queria, a mal-amada e a torna mãe do ancestral de Jesus. A salvação veio ao mundo por ela. Deus gosta de tomar partido. Deus amou Lia e ela se sentiu amada e expressa isso através de louvor.
Quando Deus veio a terra em Jesus Cristo, ele era o filho de Lia. Tornou-se o homem que ninguém queria — nasceu numa manjedoura, não tinha beleza, os seus não o receberam e no fim todos os abandonaram.
Por que ele se tornou o filho de Lia? Por que se tornou o homem que ninguém desejava? Por você e por mim. Ele tomou sobre si nossos pecados e morreu em nosso lugar. Não precisamos ficar querendo agradar nenhum ser humano, eles não são nossos salvadores.
Nossos tempos
Olhemos para nossa realidade agora. Seguindo para o final gostaria de fazer um breve e não muito profundo relata da nossa realidade. Vamos juntar algumas peças: eu falei sobre a psicologia, sobre Lia e gostaria de trazer uma última peça a questão filosófica, diria até social. Por que queremos tanto agradar.
A filosofia vem desde Heidegger, já no século XX, falando na era moderna sobre a técnica moderna que abarca o ser humano, colocando-nos numa posição auto exploração. Aprendemos que devemos ceder tudo de nós, como um recurso que move a indústria da sociedade. Byung-Chul Han, na pós-modernidade — nosso tempo, em sua obra Sociedade do cansaço, discorre a respeito da sociedade do desempenho e suas consequências cruéis sobre aqueles que não conseguem alcançar o ideal de produção.
E agora me dirijo às mulheres, nós conseguimos entrar nesse ciclo, de uma forma muito mais comprometida. Compramos muito bem compradinho o discurso que precisamos entregar alguma coisa o tempo todo, precisamos performar, e como tendemos a perfeição: devemos ser boas em tudo que fazemos e sentimos orgulho disso. Devemos ser boas esposas, boas mães, boas profissionais, boas amigas, boas cristãs….boas, boas e boas…
Sabe o que é diabólico nisso tudo? Que vivemos a era em que os sujeitos que não são explorados ao máximo estão fadados ao fracasso e à depressão, enquanto do outro lado temos aqueles que são levados à exaustão — burnout. Somos aquelas que precisam entregar desesperadamente alguma coisa, senão for um produto que seja um serviço: o serviço de agradar todo mundo.
Filosoficamente, Heidegger propõe uma meditação a respeito na relação do ser humano com a técnica e Byung Chul-Han, nos leva a refletir sobre as implicações do discurso da técnica para as relações humanas de um modo geral, discutindo as condições de ser ou não livres no mundo contemporâneo.
Tal reflexão dói e tendemos a fugir dela, porque existe um apelo à vida feliz e bem-sucedida que as redes sociais nos vendem, uma psicologia positiva e que descarta todo apelo à contemplação e à negatividade exigida por uma vida digna de ser vivida.
Vivemos em tempos de positividade tóxica, como diz a chamada desta série que nos aprisionam e escravizam. Vivemos em uma sociedade paliativa marcada por todo tipo de anestesia da negatividade, a lógica do desempenho não combina com a passividade diante da dor e do sofrimento; diante deles é preciso calar-se e não se expressar.
Precisamos estar sempre bem, sermos sempre agradáveis e nunca transparecer qualquer sombra de negatividade. Numa sociedade Patriarcal, Machista e Misógina o fardo depositado sobre nós mulheres assume a forma da obrigatoriedade. Antes aquelas que deviam encher a casa de filhos agora as que devem dar conta de tudo — porque juntamos tudo e queremos dar conta de tudo. Tomamos para nós a prerrogativa de cuidadoras, disposta a ajudar, com um sorriso no rosto e palavras doces.
Só que a conta não fecha: ser amante, ser mãe, ser profissional, ser fitness. Ai quando explodimos, porque estamos sobrecarregadas da jornada excessiva somos as loucas, as desiquilibradas. Devemos ficar quietas atendendo ao apelo de evitar toda o conflito.
Sabe por que? Porque, atendemos ao apelo contemporâneo às diversas formas de analgesia dos fenômenos da dor e do sofrimento. Acreditamos que podemos, assim como Lia conquistar nosso companheiro agradando-o, produzindo, fazendo, caímos no discurso que nos venderam. Esquecemos que agradar o tempo todo não é possível, que viver nesse ciclo só vai causar dor e tentamos a todo custo ignorar isso.
Como resolver isso? Precisamos mexer e remexer em feridas que nos doem para que exista cura. A filosofia convida a meditação, a psicologia a terapia e a teologia nos convida ao encontro com um Deus pessoal. E eu recomendo que você fala tudo isso sim, junto e misturado.
Conclusão
Para concluir, gostaria de voltar ao início com um questionamento a partir de tudo que abordamos até aqui: Por que precisamos agradar tanto? Por que tentando agradar tanto nossos parceiros? Busca de validação, medo de críticas, dificuldade de dizer ‘não’, baixa autoestima ou atenção excessiva à opinião dos outros? Necessidade de ter um bom desempenho em tudo que fazemos? Fazer alguma coisa o tempo todo? Ou um combinado de uma boa parte de tudo isso?
No fundo acredito que estamos fugindo da dor de um coração vazio. E toda dor vem do desejo de não sentirmos dor, já diria o poeta. A dor e o coração vazio existem por conta do pecado. Vivemos em um mundo quebrado, que nos faz sangrar, que nos faz nos sentirmos vazios. O pecado nos atinge direta ou indiretamente. E talvez o que precisemos de fato é enfrentar a dor, senti-la e descobrir que no meio da dor só existe alguém a quem podemos recorrer para tratá-la, que é o próprio Deus, Yahweh, que se encarnou e se apresenta de forma pessoal em Jesus Cristo.
O evangelho é sempre palavra de libertação! O evangelho nos liberta tanto da positividade tóxica, tanto do machismo, quanto do vazio. O vazio no coração de Lia só foi preenchido por Deus, um Deus pessoal, aquele que planejou salvar sua criação e se revela a nós na pessoa de Jesus Cristo. Lia encontra em Yahweh descanso da sua rejeição, dor e sofrimento. Leia só encontrou cura para sua dor da rejeição quando aprendeu que seu valor não estava em Jacó, não estava nos filhos ou nela mesma, mas no Eterno, em Yahweh o Eu sou. Veja Gênesis 29. 32: “Agora louvarei ao Yahweh!”. Encerro hoje com a citação de John Stott: “Há uma fome no coração humano que ninguém senão Cristo pode satisfazer. Há uma sede que ninguém senão ele pode saciar. Há um vazio interior que ninguém senão ele pode preencher.”
Que você encontre em Cristo descanso, cura para a necessidade de agradar o seu companheiro, mulher, se existe alguém que precisamos agradar é Cristo, é ele que precisa ser louvado.
Que você encontro em Jesus Cristo cura para sua necessidade de agradar.
Referências:
5 sinais da necessidade de aprovação do outro — Sara Macedo
Aproximações da Psicologia com o pensamento de Byung-Chul Han: abordagens fenomenológicas, sociais e psicanalíticas Organizadores: Laura Cristina Eiras Coelho Soares, Nádia Laguárdia de Lima e Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista
Deuses Falsos — Tim Keller
Disponível em aúdio em breve