JESUS, O SENHOR — KYRIOS

Giselle Melocro Borelli
11 min readDec 28, 2019

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E saiu Jesus, e os seus discípulos, para as aldeias de Cesaréia de Filipe; e no caminho perguntou aos seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens que eu sou? E eles responderam: João o Batista; e outros: Elias; mas outros: Um dos profetas. E ele lhes disse: Mas vós, quem dizeis que eu sou? E, respondendo Pedro, lhe disse: Tu és o Cristo.

Marcos 8.27–29

Quem é Jesus?

Os primeiros cristãos recorreram a certas ideias correntes no judaísmo, escatologia judaica e meios helenísticos de seu tempo para expressar quem era Jesus. Os títulos de então foram utilizados para se encontrar respostas e solucionar o problema cristológico época, de forma a confessar e expressar a fé que tinham. Cullmann (p.26, 2001), afirma que:

1. Os títulos cristológicos referente à pessoa terrena de Jesus: Profeta, servo sofredor de Deus e o sumo Sacerdote.

2. Os títulos cristológicos referente à obra futura de Jesus: Messias e o Filho do Homem

3. Os títulos cristológicos referente à preexistência de Jesus: Logos e o Filho de Deus

4. Os títulos cristológicos referente à obra presente de Jesus: o Senhor (Kyrios) e o Salvador.

O povo e os discípulos davam diversas respostas, através da expressão de títulos conhecidos, cada qual para designar uma função e obra. O título de Messias é o mais conhecido, no entanto, não é o único atribuído a Jesus no NT. Um único título não abrange a totalidade da pessoa e obra de Jesus, e sim todos os títulos encontram unidade na pessoa de Jesus, cada um deles aponta para um aspecto particular de sua pessoa. Vários títulos eram aplicados simultaneamente para identificar a pessoa de Jesus. Abordaremos de forma breve aqui o título referente à obra presente de Jesus: O Senhor — Kyrios.

KYRIOS

O sentido semântico

Segundo Coenen & Brawn (dicionário NT), Kyrios é um adjetivo que significa: poderoso, aquele que tem o poder, a força, o soberano, que tem o controle (sobre pessoas, coisas e si mesmo). Kyrios sempre contém a ideia de “legalidade” e “autoridade”. Kyrios frequentemente se emprega lado a lado com despotês que significa especialmente um “dono” (com implicações de arbitrariedade). Qualquer pessoa que ocupava uma posição superior era geralmente referida como Kyrios, a forma de trado sendo Kyrie (fem. Kyria), senhor/ senhora.

Este título, Jesus é o Senhor (Kyrios) diz respeito antes de tudo ao Cristo glorificado. O título “Senhor” expressa o fato de Cristo ter sido elevado à direita de Deus e de interceder atualmente pelos homens, em sua condição glorificado.

É uma proclamação que não pertence apenas ao passado da história da salvação e nem unicamente a expressão da esperança no futuro. Ela apresenta uma realidade vivida no presente. Ou seja, Jesus está tão vivo atualmente que até pode entrar em relação conosco e podemos lhes dirigir nossas orações, podendo a igreja invoca-lo em seu culto. O Senhor glorificado continua interagindo e intervindo nos acontecimentos terrestres, razão pela qual a igreja é considerada o corpo de Cristo. Essa profissão de fé foi realizada pelos primeiros Cristãos por Kyrios Iêsous: “Jesus é o Senhor”.

Vamos entender melhor o significado do título nas religiões helenísticas orientais, no culto ao imperador e no judaísmo:

a. Kyrios — nas religiões helenísticas orientais e no culto ao imperador

No mundo helênico o vocábulo Kyrios está ligado à ideia corrente do paganismo helenístico oriental e não é um termo de uso exclusivo da religião, como ocorre em seus equivalentes nos demais idiomas, usa-se no sentido geral de “dono”, “proprietário” ou no vocativo Kyrie, como fórmula de cortesia, “senhor”, como ocorre também em português.

Kyrios também apresenta aspectos que podem conduzir ao Kyrios divino, que corresponde a uma autoridade legitima, que expressa um caráter divino, exclusivo, de potência e domínio. Neste sentido, há inúmeras constatações do vocábulo Kyrios empregado como sinônimo de “Deus” nas religiões helenísticas orientais do Império Romano, na Ásia menor, no Egito e na Síria (Exemplos: Serápis, Osíris e Isis — nomeados de Kyrios e Kyria).

Outro aspecto correspondente era do Imperador. Kyrios é um título imperial com sentido político e jurídico, sem implicar necessariamente a divindade do imperador. Que posteriormente ganhou aspectos divinos. No entanto, sabemos que no oriente, muito antes da época romana, os soberanos eram honrados como deuses. Os imperadores romanos herdaram essa dignidade divina.

O culto ao imperador não começou com a divinização de César. Começou com divinização de Roma. O espírito do Império foi divinizado sob o nome e a figura da deusa Roma, de quem a cidade era a personificação. A deusa representava o poder benéfico do Império. O primeiro templo dedicado a Roma foi erigido em Esmirna no ano 195 a.C. Roldan, 2000, p.31.

Primeiro a divinização de Roma, depois a crença que o espírito de Roma havia se encarnado no imperador foi um passo para a adoração ao principal governante do Império. Então, começou a rendição de culto porque havia essa atribuição de ascendência e natureza divina. Originalmente esse culto era tributado apenas aos imperados romanos já mortos, porém depois foi estendido ao imperador vivo.

No Império Romano esse culto tinha seu centro no oriente. No entanto, logo os imperadores tiraram proveito dele para a unidade do Império e o incentivaram com todas as suas forças. O imperador passou a ser chamado de Kyrios como sinal de seu poder político e honrado como um deus e também com aspecto religioso, de autoridade e domínio.

O imperador passou a ser divinizado e cultuado como um deus, erguendo-se lhes templos. Passou a usar o título de Augusto, que significa divino, e a dirigir toda a atividade religiosa como supremo sacerdote (pontifex maximus). Assim o culto ao imperador contribuiu também para a unificação do Império. Uma vez por ano os súditos deviam ir ao templo de Cesar e queimar incenso dizendo: “Kyrios César” — Cesar é o Senhor. Depois, podiam ter qualquer outra religião. Não é possível fazer uma distinção categórica entre a lealdade política ao imperador e o culto a ele devotado na qualidade de deus.

b. Kyrios — no judaísmo

A palavra grega Kyrios corresponde no hebraico אדון (Adon) e no aramaico מר (Mar). Na época do NT elas significavam o seu equivalente em grego. Em geral, amo, proprietário — O Senhor. Adon ou Adonai aparece na LXX cerca de 9000 vezes, encontra-se anotado ao lado de JHVH os substitutos Adonai ou Kyrios.

É importante lembrar que os judeus não pronunciavam o nome de Deus JHVH e muito provavelmente o substituíram por Adonai, talvez anterior ao século I a.C., apesar de não ser o modo geral com que se nomeasse a Deus, mas Adonai é provavelmente o que mais liturgicamente substituiu o nome de Deus.

Em aramaico, língua popular e falada por Jesus e os discípulos, encontramos mar ou mari, também corresponde ao uso secular do grego — Kyrios. No período pré-cristão não era usado como correspondente de Deus, mari era uma maneira particularmente respeitosa de dirigir-se a alguém, como também rabi (algo como doutor), que também pode ser traduzido como Kyrie. Mari expressa uma deferência maior para se dirigir ao rei, ao imperador ou ainda doutores reverenciados. A repetição “Senhor, Senhor” (mari, mari) acentua o respeito no tratamento, mas não acentua um Senhor absoluto.

No judaísmo dependendo as circunstâncias em que se pronunciava “Senhor” podia ter uma espécie de ressonância à majestade, algo como “o nome que está acima de todo nome”.

Fato é que analogicamente ao Kyrios helênico e ao Adonai hebraico, filologicamente a palavra mari em aramaico foram empregadas primeiramente num sentido secular/ tratamento/ profano, e posteriormente num sentido teológico.

KYRIOS NOS EVANGELHOS

MATEUS

A palavra Kyrios é emprega 80 vezes no evangelho de Mateus, dentre elas, 31 vezes como referência a Jesus. Nas outras 49 vezes o termo é usado no sentido de “dono” ou “proprietário” — especialmente nas parábolas de Jesus (Mat 28.25 e 25.18, etc.); duas vezes como vocativo, kyrie, dirigido pelas virgens ao noivo (Mt 28.11) e a Pilatos pelos judeus (Mt 27.63).

Na maioria das vezes faz referência a Deus, especialmente nas partes redacionais do evangelho e nas citações do AT (Mt 1.20 / 4.7–10, etc.).

Quando Kyrios designa Jesus, aparece na forma de vocativo, por pessoas que clamam por misericórdia em busca de cura (Mt 8.2,6,8), eliminação de deficiências físicas (Mt 9.28;20.30;31,33) ou por terem demônio expelido (Mt 15.22,25.27; 17.15).

Como vocativo, o termo ainda é usado pelos discípulos (8.21,25;14.28,30; 16.22; 17.4; 18.21; 26,22), semelhantemente a rabi (Mt 26.25,16) e didáscale (mestre — Mt 12.38; 22.16), ou seja, como tratamento reverente. É pouco provável que nas ocorrências vá além disso, de qualquer forma o termo só é utilizado por um seguidor de Jesus, sendo empregado como título de honra pelo qual os que o usam se colocam em dependência de Jesus. Isto fica evidente na Ceia Pascoal em que Jesus afirma que será traído por um dos doze discípulos e todos perguntam: “Porventura sou eu, Senhor (Kyrie)?” 26.12, quando chega a vez de Judas ele diz: “Acaso sou eu, mestre (rabbi)?” 26.25.

Em algumas passagens o termo é usado por Jesus a respeito de si mesmo, isto é, como autodesignação. Em forma de vocativo, Jesus o coloca na boca dos falsos profetas que acham eu basta dizer: “Senhor, Senhor”, para entrar no reino de Deus (7.21),.

Em três passagens Jesus emprega Kyrios na forma de nome descritivo, onde assumem um significado cristológico especial: Na discussão sobre o sábado, Jesus declara: “Porque o Filho do homem é Senhor — Kyrios — do sábado” (12.8), quando manda buscar o jumentinho para entrar em Jerusalém, digam “que o Senhor — ho kyrios — precisa deles” (21.3) e finalmente no discurso escatológico, Jesus alerta seus seguidores a vigiarem, porque não sabem “em que dia vem o vosso Senhor — oh Kyrios hymon” (24.24).

Curiosidade: Mateus aplica o título Adonai quando Jesus fala com os fariseus (22.43,45, cf Sl 110.1) e citando a profecia de Isaías (3.3, cf Is 40.3 = Iahweh) — termo hebraico no circulo judaico.

MARCOS

Em Marcos o termo Kyrios aparece 18 vezes, dentre as quais em oito designa Jesus. E mais duas em parábolas no sentido de “dono” (12.9; 13.35), sete se referindo a Deus (5.19; 11.9, 12.11.29.30.36; 13.20;), principalmente em passagens retiradas no AT.

Nas oito passagens em que Kyrios serve como designação de Jesus, em apenas uma aparece como vocativo (7,28), usado pela mulher sírio-fenícia, nas outras é nome descritivo. Quatro vezes pela boca do próprio Salvador, as mesmas passagens que já citamos de Mateus. Vale conferir em Marcos a passagem do sábado: o Filho do homem é Senhor — Kyrios — também do sábado” (2.28), onde acrescenta Marcos kai, o que carrega consigo a implicação de que Jesus é senhor de muita mais do o sábado (Zimmer, 1982, p. 19).

LUCAS E ATOS

Kyrios aparece 210 vezes nos escritos de Lucas (Evangelho e Atos dos Apóstolos). Aparecendo como nos demais Evangelhos para designar Jesus (cerca de 123 vezes), com o significado de “dono” e de Deus. Em Atos o termo aparece em duas oportunidades com aplicações novas: uma vez, na forma de vocativo, enunciado por Cornélio ao anjo de Deus e ao senador Festo, referindo-se ao Cesar da época, o imperador de Roma, conversando com o rei Agripa.

No Evangelho o termo Kyrios aparece aproximadamente 40 vezes como designação de Jesus, dizemos aproximadamente pois em algumas passagens é difícil dizer se o termo se refere a Jesus ou a Deus (Ex. 1.16, 17, 46, 76). Em 16 oportunidades o termo é usado como vocativo, pronunciado por pessoas que clamam a Jesus por misericórdia devido a necessidades físicas e espirituais )Lc 5.12; 76.6; 18.41) e acima de tudo por seus discípulos e seguidores 5.5; 9,54,61; 10.17, 40; 11.1; 12.41; 13.23; 17.37; 19.8 22.33,38,49). O fato do próprio Jesus dizer que alguns o chamavam “Senhor, Senhor”, mas não faziam o que ele lhes mandava (6.46), mostra o emprego do vocativo kyrie usado no sentido de autoridade e respeito.

Este emprego demasiado do termo pode ser o resultado de Lucas ter escrito para pessoas que viviam em áreas dominadas pela cultura e língua grega (Coenen, 200, p 2318), caso contrário do Evangelho de Mateus, que usa mais nas citações do AT.

Curiosidade: Em Lc 5.8 quando Jesus pede a Pedro que lançasse a redes, este respondeu usando o tratamento “mestre” (epistáta), mas depois de ver a quantidade de peixes nas redes Pedro se prostra e diz: “Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador”, a mudança do tratamento associada ao prostrar-se e a confissão de “ser pecador” mostra que o uso da designação Senhor reconhece uma majestade sobrenatural.

JOÃO

Apesar de ser tardio (90–95 A.D), João traz transcrições da presença visível de Jesus sobre a terra. O termo Kyrios aparece 52 vezes, praticamente em toda sua totalidade designa a Jesus, para Deus é usado apenas em raras citações do AT (1.28;12.13,38). Aparece no sentido de “dono” em 13.16; 15.15.20) e uma vez como vocativo dirigido a Filipe (12.21).

Como designação de Jesus a palavra “Senhor” aparece 30 vezes na forma de vocativo — Jesus é endereçado pelo vocativo “Senhor” por diversos tipos de pessoas: que estão em necessidade ou tiveram essas atendidas (4.49; 5.7; 9.36,38; 11.3,21,27,32,39); por pessoas que não o conheciam ou que não sabiam quem ele era (4.11,15,19; 20.15), por judeus (11.34) e principalmente pelos discípulos (6.34; 6.68; 11.12; 13.9,25,36,37; 14.5,8,88; 21.15,16,17,20,21). O tratamento é sempre reverente, mas certamente passa disso em passagens como aquela em que Pedro solenemente confessa: Senhor, para quem iremos: tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (6.68,69).

É usado como nome descritivo pelo próprio Jesus: Vós, me chamas o Mestre e o Senhor (ho Kyrios) e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu sendo o Senhor e o Mestre vos lavei os pés, vós também deves levar os pés uns dos outros” (13.13,14).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos resumir a aplicação de Kyrios a Jesus na literatura do NT em cinco pontos fundamentais:

1. Sobre a forma — Kyrios como titulo cristológico é usado sozinho e em vários tipos de combinação. Assim uma singularidade do significado está presente acima de tudo quando aparece sozinho, como único título qualificador de Jesus, começando pelas citações de AT.

2. A aplicação de Kyrios na Septuaginta a Jesus — o testemunho neo-testamentário é unanime em mostrar a aplicação dos textos de AT grego a Jesus, nos quais Kyrios traduz principalmente o hebraico Iahweh. Pois todos veem no Kyrios Iesous o cumprimento de um determinado grupo de promessas feitas no AT.

3. A relação entre a morte e ressurreição de Jesus e sua aclamação como “Senhor” — apesar de várias passagens mostrarem Jesus chamado de Senhor em seu ministério terreno, há uma relação intima entre a morte e ressurreição de Jesus e sua aclamação como “Senhor”, pois é na ressurreição que temos o evento revelador do senhorio de Jesus.

4. Senhorio de Cristo e as vinda do “Senhor” — Não tem como fugirmos da expressão escatológica do AT: “dia do Senhor”, onde a vinda do Senhor “naquele dia” é vista como a afronta final, a ocasião em que o senhorio de Cristo será universalmente revelado e por isso ele será exaltado.

5. A origem e o desenvolvimento do título “Senhor” A natureza confessional da aclamação “Jesus é o Senhor” não tem sua origem nas igrejas do mundo helênico. O significado de Kyrios está dependente do AT através de citações e alusões específicas a ele na tradução do grego (LXX). Assim Jesus como Senhor surgiu na medida em que se via em Jesus o cumprimento daquelas promessas a respeito da intervenção definitiva de Yahew (Kryios na LXX), em favor de seu povo e de todas as nações do mundo.

Jesus Cristo é o Senhor (Kyrios Iêsous!) surgiu inicialmente como símbolo de fé dos cristãos entre os judeus e gentios, pré-paulino. É o credo cristão mais antigo, que expressa a submissão ao seu senhorio e confessa-O como soberano do mundo interior.

Posteriormente (João) apareceu como bandeira diante do desafio e da perseguição quando o imperador Domiciano (81–96) que exigiu a adoração do imperador romano como “Senhor e Deus” — sabe-se que no tempo de Calígula e Nero o título Kyrios ganhou maior peso no culto ao imperador.

Reconhecer Jesus Cristo como Senhor significa reconhece-lo e aclama-lo como (Zimmer, 1982, p.51):

1. Todo Poderoso Mediador e Dominador do Universo;

2. Triunfante Libertador Pessoal;

3. Guia Capacitador e defensor dos Libertos.

Cristo exaltado como Kyrios tem todos os poderes sujeitos a si, sejam angelicais, potestades, governos, domínios, todos e tudo.

REFERÊNCIAS

COENEN, Lothar; BROWN, Colin (Org.). Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento: A-M. 2. ed., v.2, São Paulo: Vida Nova, 2000.

CULLMANN, Oscar. Cristologia do Novo Testamento. São Paulo: Liber, 2001.

ROLDÁN, Alberto F. Senhor Total. 1. ed. Londrina: Descoberta Editora Ltda, 2000.

ZIMMER, Rudi; KUCHENBECKER, Horst. Jesus Cristo é o Senhor. Porto Alegre: Editora Concôrdia, 1982.

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Giselle Melocro Borelli

Cristã reformada aguardando esperançosamente a completude do Reino. Palmeirense 💚 Esposa, mãe e gestora de pessoas. Pastora na IPI em São Carlos💚