Sal e luz do mundo

Giselle Melocro Borelli
11 min readFeb 10, 2020

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Mateus 5.13–16: 13 Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; 15 nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. 16 Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.

Introdução

Uma das experiências mais frustrantes da vida a receber uma tarefa sem ter uma ideia clara de como a realizar. Infelizmente, esse tipo de coisa acontece o tempo inteiro.

Seu chefe estabelece uma meta de vendas altíssima e informa, sem meias palavras, que espera que você a alcance. Diz que a receita geral deve ser aumentada, os custos devem ser reduzidos e os resultados precisam melhorar, mas como conseguir isso é problema seu.

Ou, logo começa as aulas e os professores começam a distribuir cada vez mais tarefas, enquanto os livros e o projetos se acumulam, a frustração aumenta. Leia isto, escreva aquilo, trabalhe nisto, entregue, faça a prova, passe na matéria.

E mesmo na igreja, somos bombardeados com expectativas de termos um casamento sólido, filhos obedientes, um orçamento equilibrado, negócios éticos, uma vida de oração eficaz e relacionamentos significativos. Mas, embora os “deveres” sejam comunicados em alto e bom som, o “como” chegar lá permanece distante e abafado, isso quando é ouvido.

E ainda começamos fevereiro pensando sobre o desafio de exercer impacto evangelístico sobre o mundo. “As pessoas estão perdidas!”, costumamos dizer. “Estão caminhando para o inferno, mas Deus quer alcançá-las, e você é o embaixador escolhido. Então, você precisa it lá fora e trazê-las para Cristo!”.

E como refutar esse argumento? Ele é bíblico, verdadeiro e faz sentido. Então, vamos direto para a ação — mas onde? Alguém pode explicar melhor o que significa o termo técnico “lá Fora”? Por onde começo? Como é o processo? Quem me ajuda a dar o primeiro passo?”

Um plano divino

Deus é bom e ele não nos deixa em tal estado de confusão! Um velho ditado diz: “Deus capacita os escolhidos’. Além de revelar que neste mundo de pessoas perdidas é importante para ele garantir que teremos as informações e ferramentas necessárias para trilhar com eficácia o caminho para alcançá-las.

Jesus falou sobre seu plano há muito tempo atrás, quando se assentou com seus seguidores na encosta de um monte próximo a Cafarnaum. Usando termos do cotidiano, explicou princípios que podem ser resumidos neste plano para influenciar o mundo: AP + PI +CC = MI.

Uma fórmula que contém a estratégia divina para alcançar os espiritualmente perdidos. Onde o sal seria o AP (Alta Potência) e o PI (Proximidade intensa) e a luz CC (comunicação clara) que geram MI (Máximo impacto), que é a capacidade de exercer a maior influência espiritual possível.

Uma nova visão do sal

Quando pensamos no sal a primeira coisa que nos vem à mente em nossos dias é que o sal provoca sede. Depois que o sal melhora a saber dos alimentos e que o sal conserva. Não o usamos muito para esse propósito hoje, mas, antes das geladeiras, o sal era usado para impedir que os alimentos estragassem. Certos tipos de carnes e peixes podem ser conservados por muito tempo quando cuidadosamente salgadas.

Então, o sal estimula a sede, acrescenta um toque especial ao sabor nas coisas e retarda o apodrecimento. Isso nos leva a grande pergunta: a qual dessas propriedades Jesus tinha em mente quando falou para seus seguidores: “Vocês são o sal da terra”?

A resposta imediata é: não sabemos!

Talvez Jesus estivesse referindo-se ao sal para simbolizar a ideia de provocar sede. Quando os cristãos estão em sintonia com o Espírito Santo, quando vivem com um senso de propósito, com paz e alegria, isso costuma gerar sede espiritual nas pessoas a seu redor.

Quando os cristãos vivem sua fé com autenticidade e ousadia, é como se acrescentam um toque de vitalidade a um prato de sopa meio insosso. Pegam as pessoas desprevenidas e as surpreendem. Despertam-nas com seus desafios e pontos de vista aparentemente radicais. E subvertem a ordem aqui e ali. Ou seja, acrescentam sabor a vida daqueles que os rodeiam.

Quando os cristãos vivem de maneira honrada, retardam a decadência moral da sociedade. Quando diante de questões e dilemas da sociedade optam pela vida, lutam por questões ambientais, lutam contra o racismo, contra a violência doméstica, valorizam a família, denunciam a opressão e a injustiça de nossos tempos e trabalham de forma ética.

Você pode escolher qualquer uma dessas possibilidades, ou mesmo as três. Mas, quero pensar contigo, que talvez existam mais outro motivo para Jesus usar o ‘sal’ como metáfora, talvez porque o sal tenha o maior impacto possível quando está próximo daquilo que deve afetar, seja, no nosso paladar ou nos alimentos.

Jesus disse no versículo 13 que o sal sem sabor e de qualidade rum não vale para nada. Perdeu seu poder. Não provocara sede, não acrescenta muito sabor, nem retardara o apodrecimento. Pode ter todo tipo de proximidade, até ser derramado sobre algo que queremos afetar; mas, se não tiver potência, como disse Jesus, é sem valor. A única coisa que ele faz é dar as pessoas algo em que pisar.

Hoje, em contrapartida, temos o sal industrializado, cheio de sabor, tem muita potência, mas não produzira resultados, a menos que toque alguma coisa. Ou seja, se o sal não for derramado do saleiro, será apenas um enfeite de mesa.

Infelizmente, essa é uma boa descrição de muitas pessoas que se autodenominam cristãs. Elas têm muita potência no relacionamento com Cristo, oram, leiam a Bíblia diariamente, trilham um caminho que honra Deus em seu padrão de vida pessoal. Mas nunca vão a lugar onde podem estar junto das pessoas que precisam de sua influência. São belos enfeites de mesa, mas exercem pouco impacto.

Ou seja, como o sal que precisa de potência e proximidade para cumprir seu propósito, nós para cumprirmos nossa missão de exercer impacto espiritual sobre nossos familiares e amigos precisamos de potência e proximidade.

O contato diário com Deus, em oração e com a leitura constante da sua Palavra nos manterá abertos as instruções do Espírito, ávidos por influenciar as pessoas de fora da família cristã, amorosos e ternos diante de Deus e uns com os outros, em sintonia com o que realmente importa. Seu estilo de vida pode provocar sede, acrescentar sabor e servir de proteção moral à medida que você interage com os que estão a sua volta.

A lição da luz

O sal foi apenas uma das duas metáforas que Jesus usou para descrever seus seguidores. A outra foi a luz. Ele disse, em Mateus 5.14, “Vocês são a luz do mundo”. Mais uma vez, é apropriado perguntar o que fez Jesus escolher essa metáfora, o que a luz faz?

A resposta mais simples é que ela torna as coisas visíveis e nos ajuda a ver o que elas realmente são. É o que queremos dizer quando falamos em “dar uma luz” a determinado assunto.

Quando, analisamos o uso bíblico do termo “luz”, a ideia central é a de apresentar a verdade de Deus a outros de forma clara e atraente, iluminando a realidade como ela realmente é, como afirma 2Co 4.5–6: “Pois nós não anunciamos a nós mesmos; nós anunciamos Jesus Cristo como o Senhor e a nós como servos de vocês, por causa de Jesus. O Deus que disse: “Que da escuridão brilhe a luz” é o mesmo que fez a luz brilhar no nosso coração. E isso para nos trazer a luz do conhecimento da glória de Deus, que brilha no rosto de Jesus Cristo”

Você percebe a ligação entre a luz e a transmissão da mensagem do evangelho? Ou seja, aqui em Mateus, Jesus parece estar dizendo que deseja que seus seguidores sejam capazes de iluminar espiritualmente os outros não só ao viver seus ensinos, mas também ao explicar sua mensagem de perdão e graça com precisão e correção. É isso que significa ser luz.

A ilustração do sal nos deu os dos primeiros componentes da formula, AP (alta potência) + PI (proximidade intensa), a metáfora da luz fornece o componente final de como exercer máximo impacto sobre outros. Com uma comunicação clara da mensagem do Evangelho: Somos testemunhas reais da transformação no interior do nosso ser, quando nosso coração se abriu para Deus, e passamos a entender que pela graça d’Ele e por seu amor incondicional por nós, entregou seu Filho amado na cruz para perdoar os nossos pecados, nos dar a salvação e a vida eterna.

Para que a luz tenha o efeito desejado, Jesus disse em Mateus 5.15–16, que ela não pode ser coberta, nem escondida de maneira alguma. E, para que tenhamos a influência poderosa desejada por Deus, devemos estar bem familiarizados com a mensagem do Evangelho e prontos para comunicá-la de forma concisa e clara.

Isso significa que precisamos fazer um esforço extra para aprender a declarar e defender os mais importantes princípios do Evangelho com simplicidade autêntica. Precisamos estar prontos para ajudar as pessoas a compreenderem a natureza de Deus, o estado pecaminoso delas, o resgate feito por Cristo na cruz e o passo que cada um de nós deve dar para receber o perdão e a nova vida que ele oferece.

Sem isso, as pessoas não saberão o que nos distingue em qualidade de vida do resto do mundo, viveremos sempre pressionados, pelas metas, pelos professores, pela igreja, pela vida, mas nunca desfrutaremos da vida plena que tanto falamos. Precisamos provar a transformação do Evangelho em nossa vida, para depois outros poderem ver tal transformação em nós.

Há cristãos anestesiados, pensando que, se apenas viverem sua fé de forma aberta e coerente, as pessoas ao redor verão e desejarão ter a mesma vida e, de algum modo, descobrirão como alcançá-la sozinhas. Ou pensando que talvez essas pessoas venham e nos perguntem o que torna a vida deles tão diferente, quando o fizerem, eles aproveitarão a oportunidade para explicar. Mas sejamos honestos: isso quase nunca acontece!

Embora seja um pré-requisito ter uma vida crista cheia de sal — ter alta potência e relacionar-se com outros isso, por si só, não é suficiente. Deus nos proíbe de pararmos por aí, pois, nessa situação, as pessoas acabam no inferno. E imprescindível que também transmitamos a mensagem numa linguagem clara, que nossos amigos compreendam, se arrependam e tenham suas vidas transformadas.

Jesus explicou que, além do sal, devemos ser luz: comunicar com clareza sua mensagem da graça. Se formos sal e luz, capacitaremos as pessoas com quem nos importamos a fazer o que ele diz em Mateus 5.16:” Assim também a luz de vocês deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que vocês fazem e louvem o Pai de vocês, que está no céu.”

Depois de terem a oportunidade de ver “as suas boas obras” e compreenderem o centro da mensagem do Evangelho, elas estarão prontas para tomar a decisão de seguir Cristo e para louvar, de maneira significativa, ao Pai “que está nos céus”.

Uma avaliação honesta

Quero te fazer uma pergunta: a equação descreve de forma precisa a situação atual de sua vida? Olhe bem para ela e pense.

AP/ALTA POTÊNCIA + PI/PROXIMIDADE INTENSA + CC/COMUNIÇÃO CLARA = MI/MAXIMO IMPACTO

Muitas pessoas realmente são descritas por essa equação, tem a quantidade de sabor ideal na vida delas e de forma contagiante se misturaram com as pessoas não religiosas, a fim de influenciá-las para Cristo. Elas nos inspiram e desafiam.

No entanto, também é verdade que muitos cristãos estão flertando com urna aritmética estranha. Tentam fazer a ‘nova matemática” funcionar. Dizem: “Vou descobrir uma forma de fazer a alta potência e a proximidade baixa resultar em máximo impacto” ou algumas que dizem justamente o contrário “Vou descobrir uma forma de fazer a alta proximidade e a potência baixa resultar em máximo impacto”. Mas, infelizmente, com o tempo palavras sem ação e ações sem palavras são destituídas de significado e conteúdo.

Você consegue perceber por que Jesus enfatizou que precisamos de sal e luz? É imprescindível que tenhamos elevado grau de sabor e disposição para comunicar a mensagem de Cristo.

Conclusão

Como vimos estamos aprendendo no treinamento cristão contagiante às sextas e nas mensagens ao longo desse mês, cada crente tem um perfil evangelístico. Precisamos pedir a Deus a orientação para ter potência, intensidade e comunicação clara para causarmos o máximo de impacto na vida das pessoas ao nosso redor.

Recebemos uma missão, como Deus enviou Jesus também nos envia ao mundo e nos mostra como cumprir tal tarefa, de forma clara, para que não fiquemos frustrados em nossa missão. Que no caminho, no dia-a-dia das nossas vidas, que nós sejamos como o sal e como luz, assim vamos causar o máximo de impacto evangelístico possível, isso vai ser fácil? Não, mas Deus está conosco todos os dias até o fim, nos capacitando e ajudando em nossas dificuldades e deficiências.

Somos sal e não fomos feitos para ficarmos no saleiro ou no pacote. Para tanto gostaria de fazer um alerta importante: Pessoas “sal demais” só conseguem aceitar seu modo de ser e pensar e querem impô-lo (mesmo que a ferro e a fogo) às demais pessoas. Essas se tornam fanáticas, inoportunas e invasivas. Pessoas “sem sal” são aquelas que não se expressam, não opinam, não se envolvem, não se comprometem, não contribuem em nada e com nada, com quem não podemos realmente contar.

Dê sabor a vida das pessoas, basta apenas uma pitada de sal para que a comida tenha sabor, nem muito, nem pouco. Ou seja, a ação das pessoas cristãs não precisa ser medida em quantidade; basta uma pitada para que se sinta o sabor. Não precisamos ser a maioria; basta que deixemos a marca do sabor do Reino.

É o próprio Jesus quem nos ajuda a ser sal na medida certa. Importa permanecermos unidos a ele, participar da comunidade de fé, dos pequenos grupos, orar e estudar a Palavra, envolver-se com sua missão ao longo da nossa caminhada de vida, o próprio Deus nos dá a missão, nos capacita, direciona e vai junto na caminhada. Ele não nos deixa a mercê das circunstâncias, Ele nos acompanha.

E mesmo as questões referentes as expectativas de um casamento sólido, filhos obedientes, um orçamento equilibrado, negócios éticos, uma vida de oração eficaz e relacionamentos significativos, tem nas Escrituras ajuda e direção para sermos bem sucedidos.

E não se esqueça basta uma fagulha de luz para dissipar as trevas. Ou seja, a pessoa cristã pode ser uma luz bem pequena, mas iluminará o mundo, dissipando as trevas. A função das pessoas discípulas é iluminar o mundo, o contexto, o lugar onde vivem; falar a verdade em amor, não se esconder, mas também não atuar para que sejam admiradas e vistas mais do que a verdadeira luz, que é Jesus.

Jesus nos acendeu a partir de nosso encontro de fé e de nosso Batismo. Temos o chamado para testemunhar a alegria de sermos achados e a satisfação de tomar a tarefa de ser sal e luz para as pessoas, que flui naturalmente através das boas obras que Deus nos capacita a realizar.

O mundo hoje produz tantas luzes artificiais, tantas pessoas são seduzidas com promessas de luz que só criam mais trevas e desilusão. Por isso também fica uma alerta: Muita luz também pode ofuscar a outra pessoa e não permitir mais enxergar nela o rosto da irmã e do irmão. É crucial ouvir e valorizar os outros e não impor a verdade. Lembre-se que é o Espírito Santo quem convence a pessoa do erro e do engano, você é apenas o mensageiro, portanto, lembre-se de “falar a verdade com espírito de amor” (Ef 4.15)

Mais, uma vez, lembro é Cristo quem acende-nos na medida certa. Se ventos teimarem em apagar a luz que brilha em nós, é o próprio Cristo que nos acenderá sempre de novo e de novo.

Mantenha sua potência alta com as disciplinas espirituais, aproxime-se de forma intensa das pessoas que precisam e comunique de forma clara o Evangelho de Cristo, com zelo e amor, somente assim poderemos produzir o Máximo de Impacto possível e vidas serão restauradas para honra e glória do Senhor. Que Jesus continue nos ajudando e capacitando sempre. Amém!

Referências

HYBELS, Bill. MITTELBERG, Mark. Cristão Contagiante. Editora: Vida. São Paulo, 2012.

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Giselle Melocro Borelli
Giselle Melocro Borelli

Written by Giselle Melocro Borelli

Cristã reformada aguardando esperançosamente a completude do Reino. Palmeirense 💚 Esposa, mãe e gestora de pessoas. Pastora na IPI em São Carlos💚